BRASIL
Brasil vive 'calmaria antes do tsunami', diz Dilma um ano após o impeachment
Ex-presidente participa de evento no Rio, um ano após ser definitivamente afastada da Presidência
RIO - Ao comentar seu impeachment, julgado pelo Senado há exatamente um ano, a ex-presidente Dilma Rousseff previu um agravamento da crise "econômica, política e social" no Brasil num futuro próximo. Em evento organizado pelo jornal "Brasil de Fato" na Associação Brasileira de Imprensa (ABI) na noite desta quinta-feira, Dilma discursou lembrando agens de sua istração, da crise que culminou em sua saída do governo e a gestão de Michel Temer.

- O Brasil está caminhando para um agravamento da crise econômica, social, institucional e política. A impressão é que há uma calmaria antes do tsunami. É impossível supor que, nesse quadro econômico, processos como o da (privatização da) Eletrobrás, se esteja caminhando (para uma solução) - avaliou Dilma.

A ex-presidente afirmou ter sido vítima de um golpe, cujo principal promotor foi a elite brasileira.

- Nós temos a mais egoísta, atrasada e irresponsável elite econômica. Várias elites pensaram em sua nação, perceberam que seu destino seria maior se elas incorporassem o destino de seu povo. Algumas construíram sociedades verdadeiramente democráticas. No nosso caso, tivemos enorme dificuldade de fazer os mais simples processos de inclusão - afirmou Dilma.

- Por isso tudo, como é grave tirar os mais pobres do Orçamento. Como é grave a mudança constitucional aprovada (PEC do Teto). Colocaram isso por 20 anos. Por cinco eleições presidenciais, tiraram os pobres do Orçamento. O pato amarelo no meio da Paulista expressava isso: não queremos pagar o pato. Em qualquer crise, há um custo. Mesmo fora de épocas de crise, a divisão do Orçamento traz um conflito distributivo entre os diferentes setores sociais.

Sobre a reforma política e as eleições de 2018, Dilma classificou a hipótese de adoção do sistema parlamentarista como "um sonho de verão do golpista-mór", em referência ao presidente Michel Temer. E disse depositar esperanças na influência do ex-presidente Lula nas eleições do ano que vem.

- A frase mais bonita que vi nos últimos tempos foi do Lula, numa entrevista recente. Ele disse "Solto ou preso, condenado ou absolvido, vivo ou morto, eu participo de 2018". A frase é boa, porque mostra uma imensa indignação com a injustiça que se cometeu sobre ele. Tem a ver com a morte da Marisa, com a condução coercitiva, a condenação por razões frágeis. Ou seja, colocar a pessoa no seu limite. Quando a gente é colocado numa situação extrema, a gente pensa no limite. Quando Lula diz isso tudo, ele mostra ter noção do que representa 2018: em 2018, está em disputa se o golpe se reproduz ou se contém. Se se reproduz muito, ou se tem mecanismos de intervenção que o barram.

Sobre os momentos que resultaram no seu impeachment, a presidente voltou a lembrar da gravação de sua ligação com o ex-presidente Lula, em março de 2016, quando ela decidira nomeá-lo ministro da Casa Civil, o que foi vetado pela Justiça, porque representaria obstrução de Justiça.

- Quanto mais perto do golpe, o uso político do Judiciário ficou claro. Judiciário que é seletivo com quem é objeto... por exemplo: nomeei Lula para a Casa Civil. Em alguns países, se alguém grava o presidente da República, a lei de segurança nacional o bota na cadeia. Aqui gravaram a presidente da República no exercício, sem autorização do STF. Tinham autorização para gravar o ex-presidente até 11h, gravaram às 13h45. Não tinham autorização para divulgar a conversa. E divulgaram. Criaram a maior confusão do mundo e impediram que Lula fosse ser ministro da Casa Civil. Ato contínuo, pós golpe, a mesma coisa, alegada a outra pessoa (Moreira Franco), permitiram que fosse nomeado. E está nomeado até agora.
01/09/2017
Fonte: O GLOBO
 
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