A Justiça absolveu um delegado e três investigadores da Polícia Civil presos na Operação "Serendipe", em Uberlândia, em junho de 2016, pelo crime de organização criminosa. De acordo com a sentença do juiz Joemilson Donizetti Lopes, da 2ª Vara Criminal da cidade, os policiais foram inocentados desta denúncia por falta de provas. No entanto, eles continuam presos por outros crimes.
A sentença, divulgada na última quinta-feira (19), é em 1ª instância e cabe recurso. O Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) disse que vai recorrer ao Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG). O promotor que participou da denúncia contra os réus, Daniel Marota, disse ao G1 nesta segunda-feira (23) que, além de delações premiadas, apresentou provas materiais do crime de organização criminosa que, pode resultar em uma pena de três a oito anos de prisão.
Ainda de acordo com a denúncia do MP, julgada improcedente pelo magistrado, o delegado Bernardo Pena Salles comandava a organização criminosa e permitia que a Agência de Inteligência da Polícia Civil de Uberlândia fosse utilizada para servir como meio de corrupção policial.
O processo diz ainda que os investigadores Rodolfo Cardoso Ribeiro e Rodrigo Luiz Felix Borges atuavam em campo para identificar alvos de cobrança de propina. Já o investigador Fabrício Alves da Rocha foi denunciado por ser considerado o elo do esquema criminoso. Eles foram presos por suspeita de extorsão, corrupção ativa e iva e falsidade ideológica em 2016.
Os três investigadores e o delegado estão presos na Casa de Custódia de Belo Horizonte. A reportagem entrou em contato com a defesa dos réus:
Bernardo Pena Salles: o advogado do delegado, Thiago Rodrigues de Faria, informou que, após a absolvição neste caso, o réu aguarda a sentença das denúncias de corrupção iva e falsidade ideológica.
Fabrício Alves da Rocha: o policial civil já foi condenado em outros dois processos a 10 anos e sete meses de prisão em regime fechado, multa e perda de cargo de investigador. Ele ainda responde como réu em três processos. O advogado do policial, Clovis Mesiano Muniz Junior, disse que nos autos não foram apresentadas provas de que Fabrício cometeu o crime de organização criminosa e que a denúncia do MP foi baseada em delações premiadas de criminosos.
Rodrigo Luiz Felix Borges: policial civil condenado em regime fechado em quatro processos a 30 anos e dois meses de prisão, multa e perda de cargo. Ele ainda responde como réu em outros cinco processos. O G1 não conseguiu contato com o advogado que o representa.
Rodolfo Cardoso Ribeiro: policial civil condenado em dois processos por 24 anos, oito meses e 10 dias de prisão em regime fechado, multa e perda de cargo. Ainda responde como réu em outros seis processos. O advogado dele, Marco Túlio Bosque, informou que a absolvição na denúncia de organização criminosa se deu por fundamentos judiciais.
Operação 'Serendipe'
A operação "Serendipe" teve como foco a investigação de desvios de conduta por parte de policiais civis de Minas Gerais. A primeira fase foi deflagrada em 23 de junho de 2016 em Uberlândia e a última finalizada em julho de 2017.
Segundo o Ministério Público, a operação resultou na prisão de 18 policiais civis, nove lotados em Uberlândia, cinco lotados em Uberaba e quatro lotados em Belo Horizonte. Além disso, foram deflagradas mais de 10 ações penais. Os processos estão à disposição da Justiça.
De acordo com os promotores, os policiais faziam uma investigação paralela à da Polícia Federal (PF) e mapeavam duas organizações criminosas que atuavam no roubo de cargas na região. Em seguida, faziam o flagrante dos criminosos e os subornavam para que pudessem ser liberados, forjando o boletim de ocorrência.
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